Este livro, com acuidade seletiva, além de sensibilidade estética, traz-nos uma contribuição singular à compreensão do mistério cristão e de sua mensagem desconcertante. O autor foca sobremaneira atenção na recuperação da simplicidade do conteúdo evangélico. Talvez esteja aí exatamente sua virtude maior: consegue diferenciar muito bem simplicidade do simplismo afoito e imediatista que ronda as igrejas evangélicas brasileiras.
Esta é sem dúvida a grande novidade deste livro – a revelação de que o conteúdo da mensagem de Jesus e, portanto, de sua espiritualidade, não constitui um patrimônio metafísico, estranho a este mundo e trazido por Ele na sua bagagem em decorrência de sua condição divina. Não! Sua memória relaciona-se direta e intensamente com o “imaginário social” do seu povo, dos seus discípulos, que vagarosa e tardiamente vão-se imiscuindo em seu “mistério pascal”. Assim fazendo, tornam-se conscientes de quem Ele é e de quem eles são. Descobrem-no, descobrem-se! Jesus de Nazaré, assim, “insere-se” (apossa-se) dessa memória coletiva e, com sua Palavra, transubstancia-a.