Nada melhor que as tintas da literatura para retratar certos personagens da vida real, pois a ficção consegue, com sensibilidade, dar conta de seus traços complexos. Este é o caso de Padre Cícero Romão Batista, protagonista do romance 'Uma luz no sertão', de Caio Carneiro, que busca captar a multiplicidade humana e simbólica do Padim Ciço. Homem santo ou político ardiloso, muitas são as opiniões sobre este mito da religiosidade popular brasileira. Nascido em Crato, Ceará, Padre Cícero (1844-1934) ordenou-se em Fortaleza, e logo voltou à sua região de origem, instalando-se em Juazeiro do Norte. Nessa pequena localidade, o padre mirrado, mas com energia e vontade sem trégua de ajudar a população local, começou, pouco a pouco, a promover mudanças que se estenderam a pequenas cidades ao redor. Contrariou Roma e foi punido, mas nem por isso deixou de tornar-se um autêntico guia espiritual de milhões de brasileiros, que acorriam, em romarias para buscar sua benção. Noventa anos de uma vida em que enfrentou jagunços e envolveu-se em política, quase sofreu excomunhão pela Igreja de Roma, mas sempre foi venerado e respeitado por seu povo, iluminando caminhos como uma verdadeira luz brilhando no sertão nordestino.