Vicente é um pombo diferente. Quer dizer, é um pombo comum. Ou melhor, não tão comum, pois vem da longa linhagem dos pombos-correio. Mas sendo um não-tão-comum pombo-correio, é um pombo-correio comum. Não fosse o fato de ser meio diferente... Não que Vicente tenha nada de diferente. À primeira vista. À segunda também. Pois o que tem de diferente não está à vista. É, enfim, seu jeito de ver a vida. Não seria um problema se os pombos não fossem pássaros para lá de sérios. E que levam muito a sério o bando, as regras do bando e os chefes do bando, que, seriíssimos, mantêm a seriedade com que o bando segue suas rígidas regras. Mas Vicente, como diz seu pai, é “inclinado”. Ou seja, Vicente não voa reto pela vida. Uma das inclinações do Vicente é contar histórias. E ele as conta tão bem, e tão interessantemente, que muitos pombos na praça San Marcos, em Veneza, onde ele vive, se inclinam em sua direção para ouvi-lo em meio ao barulho dos turistas. E uma das histórias que ele mais gosta de contar é a dos pombos-correio. Ou seja, tudo que eles fizeram ao longo da história, desde os tempos bíblicos. Pois antes da era das comunicações, que começou com o telégrafo e terminou com a internet, passando pelo telefone, tudo ficava muito distante, porque não havia comunicação à distância. A não ser pelos pombos-correio. Muitas histórias ao longo da história teriam sido diferentes, ou nem teriam sido, não fossem os pombos-correios. Histórias de donzelas presas longe de seus amados, de soldados armados até os dentes em lugares distantes, de... Enfim, essa era a moral da história das histórias que contava o Vicente. Esta é a história de um pombo que contava histórias e fez história entre os pombos.