Os artigos que integram Michel Foucault e os saberes do homem - Como, na orla do mar um rosto de areia derivam do VIII Colóquio Internacional Michel Foucault, realizado em 2013 na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
A expressão saberes do homem sugere uma duplicidade de sentidos: estão em pauta tanto os saberes elaborados pelo homem como os que têm o homem como seu objeto. Já a frase destacada em itálico é a que encerra As Palavras e as coisas (1966), polêmica obra em que Foucault previu o desaparecimento, qual uma figura traçada na areia levada pelas ondas do mar, da categoria homem como centro de nossas formas (modernas) de pensar, agir e ser.
A despeito da inegável referência a As Palavras e as coisas, contudo, os artigos aqui reunidos não se restringem à discussão das teses de 1966. O arsenal conceitual que Foucault nos legou aponta para uma crítica do presente, uma ontologia histórica de nossa atualidade. Esta ontologia é constituída por três dimensões: epistemológica (o que somos nós, que sabemos tantas coisas sobre diversos domínios da realidade, e em especial sobre nós mesmos?), política (o que somos nós, que agimos sobre campos possíveis de nossas próprias ações e de ações dos outros, procurando governá-las?) e ética (o que somos nós como sujeitos morais que, a partir de determinado momento da história do pensamento ocidental, relegamos o cuidado de si a uma posição subordinada, passando a privilegiar o conhecimento de si?).
Evidentemente inter-relacionadas, essas três dimensões abrem campos problemáticos em múltiplos âmbitos e facultam por em pauta problemas teóricos e metodológicos de cunho interdisciplinar; mas, primordialmente, questões ético-políticas incontornáveis, sempre presentes no pensamento de Foucault. Com tal intuito, estão aqui presentes textos de conferencistas nacionais e internacionais, estudiosos reconhecidos do pensamento foucaultiano, a fim de que a problemática ora delineada, sem perder em rigor, possa atingir um público amplo e diversificado.