Neste livro, a autora tem a originalidade de nos mostrar o outro lado da moeda do processo de adoecimento psíquico e da própria reforma psiquiátrica, ou seja, pelos olhos e corações das próprias famílias dos usuários e das formas de intervenção profissional que vem sendo objeto. O texto constitui uma leitura indispensável a todos as pessoas ligadas ao campo da saúde mental. Por elas, entendo os estudantes universitários e profissionais que constituem hoje os trabalhadores de saúde mental, bem como os psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, e todos os demais profissionais das equipes interdisciplinares de saúde mental e os gestores de serviços. Estou certo de que também os próprios usuários, e principalmente os seus familiares, terão muito a ganhar com a leitura da obra. A abordagem do livro revela também uma temática mais universal: o grande iceberg, ou o enorme, frio e sombrio buraco das sociedades contemporâneas, aprofundado em sua crise atual, e escondido abaixo da superfície das relações sociais de maior visibilidade: a questão da produção do cuidado social na família a pessoas que não podem se prover a si mesmas, a exploração de gênero associada a ela, na medida em que são as mulheres as principais cuidadoras, bem como seus aspectos subjetivos, o peso econômico e psicológico para os seus responsáveis e as variáveis que incidem sobre sua dinâmica.