De um ponto de vista histórico, muito embora a criação de espaços públicos planejados seja prática antiga, o tema do urbanismo ganhou relevância como matéria de estudos apenas a partir de meados do século XIX, quando se acelerou dramaticamente o processo de migração das populações rurais para as cidades, exigindo uma maior racionalidade na organização do território urbano, a fim de garantir condições mínimas de moradia, saneamento, segurança, mobilidade e funcionalidade às cidades, e a preservação de seus sítios históricos e monumentos. Foi a partir desse fenômeno, de expansão física e populacional das grandes cidades europeias e americanas, que as autoridades públicas passaram a incorporar o planejamento urbano como assunto de reflexão estratégica e a considerar o espaço da cidade em sua totalidade. Esse maior cuidado com o espaço urbano foi decisivo para a consolidação desses centros como potências políticas e econômicas em âmbito internacional, na modernidade. A história dessa evolução começou a ser esmiuçada mais recentemente, dado que o distanciamento no tempo permite sistematizações e análises mais consistentes das experiências urbanísticas e dos fenômenos urbanos. História do Urbanismo Europeu, de Donatella Calabi, uma das mais respeitadas pesquisadoras do assunto na atualidade, é obra de referência para os estudiosos das questões urbanas. Ao analisar e elencar as mais notáveis experiências urbanísticas da Europa nos últimos 150 anos e suas principais personalidades, ela forma um minucioso panorama crítico do papel protagonizado pelo planejamento urbano na constituição e no desenvolvimento das atuais metrópoles europeias e, por extensão, do resto do mundo, pois, sem menosprezo às particularidades de cada região e de cada sítio urbano, e, em certa medida, devido à transnacionalização das sociedades humanas, as transformações por que passaram as grandes cidades do planeta guardam muito mais similaridades do que antagonismos entre si.