A Regra e o Modelo, de Françoise Choay, é um estudo consagrado ao espaço construído e à cidade. Mas não focaliza propriamente o mundo concreto do urbano. Deixa de lado os edifícios efetivamente construídos, abordando apenas o espaço e a cidade como coisa escrita. Seu objeto pertence, pois, à ordem da escritura e do texto. São os textos que, chamados de teoria, buscam, no quadro de um campo disciplinar próprio, determinar as modalidades para a concepção de edifícios ou futuras cidades. Trata-se, como se vê, do discurso instaurador daquilo que chamamos urbanismo. Mas o que está aqui em foco não é o que se consagrou na tradição do Ocidente como sua feição estabelecida para todo o sempre e em cuja autoridade exclusiva se pretende basear os procedimentos gerativos do mundo construído.
Essa repetição que se universalizou no curso da história, sob a forma de doutrinas do urbanismo, relega à sombra o caráter insólito e até escandaloso de que sua presença inicial se revestiu. É o que transparece nos textos fundadores, cuja singularidade A Regra e o Modelo analisa, pondo a descoberto a natureza das razões e dos mitos que eles implantaram no pensamento urbanístico. Ao fazê-lo, este livro contribui com elementos essenciais de crítica e reavaliação que podem ajudar no esforço que se empreende hoje, no mundo e no Brasil, para reformular e renovar a problemática da edificação, com vistas a novas formas de ação nesse domínio.