O livro Compromissos Conservadores do Liberalismo no Brasil baseia-se na hipótese de que o processo histórico e a dinâmica da circulação de ideias e de apropriação cultural implicam trocas e apropriações realizadas numa mesma temporalidade histórica nas duas margens do Atlântico. Não houve, portanto, atraso ou impropriedade das ideias liberais no Brasil durante o século XIX. A discussão sobre o fim da escravidão e as formas de trabalho na segunda metade do século XIX constituiu a janela de observação da apropriação do liberalismo analisada neste livro. A problemática da escravidão e seu fim foi discutida durante o Segundo Reinado, tendo como pano de fundo as questões mais gerais da formação do Estado e da cidadania na sociedade brasileira. Neste debate, o protagonismo de Joaquim Nabuco é incontornável; e a singularidade das formas históricas assumidas pelo discurso liberal por ele abraçado é enfocada neste livro.
A postura paternalista e reformista de Nabuco serviu de modelo para o processo abolicionista, alijando os setores mais radicais que almejavam transformações mais profundas que atendessem aos anseios dos ex-escravos, especialmente no que tange à propriedade da terra e à educação. O pensamento liberal conservador de Nabuco ganha um espaço de relevo na conjuntura política do final do século XIX. Percebe-se essa relevância quando nos debruçamos sobre seus discursos no Parlamento e sobre seu texto básico sobre o abolicionismo. Nabuco ressaltava que a propaganda devia ser dirigida aos senhores de escravos, pois os escravos não estavam preparados para assimilar a mensagem abolicionista dentro da ordem. Conforme as concepções de Nabuco, tornava-se fundamental educar, corrigir e tutelar o escravo ou o liberto, mas sempre atento as suas travessuras e rebeldias.