'Vaqueiros e Cantadores' eram os heróis mais populares de um Nordeste perdido no tempo, quando ainda se vivia como no século XVIII. O sertanejo mandava fazer uma roupa de casimira para durar a vida toda, ser exibida nas festas, no casamento e ser enterrado com ela. As filhas usavam os trajes das mães. Os velhos tomavam banho aos sábados, abençoavam com os dedos unidos e sabiam algumas palavras de latim. O gado se espalhava pelos descampados, reunido nas vaquejadas alegres, celebrado em romances populares, nos quais o grande herói era o boi, rebelde, desafiando o vaqueiro, glorificado pelo povo, o boi Espácio, o boi Surubim. O sertão vivia de ouvido atento às histórias dos cantadores, quase todos analfabetos, versejando velhos romances, comoo da sábia e astuta donzela Teodora, da Princesa Megalona, da Imperatriz Porcina, com as suas figuras clássicas da tradição medieval: cavaleiros andantes, virgens fiéis, paladinos cristãos; os testamentos de Judas em pé-quebrado (espécie de quadra, quase sempre de sete sílabas); os A.B.C., contando a gesta de um touro, um bode, uma onça suçuarana; os pelo-sinais e orações satíricos, todos eles documentados e estudados com insuperável conhecimento por Luís da Câmara Cascudo.
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