Este livro traz uma densa análise que nos permite aprofundar a compreensão da natureza cada vez mais violenta das relações sociais capitalistas e, ao mesmo tempo, a produção de forças, sujeitos e movimentos sociais que se organizam e se põem, como agenda de luta, não apenas a conquista de direitos elementares, mas a superação da ordem social que os nega ou suprime.
No trabalho de pesquisa e análise, que permite ascender do empírico fenomênico, do senso comum à compreensão da realidade em suas mediações, a autora conduz-nos a perceber o processo contraditório da construção da sociabilidade, das subjetividades e da individuação humana no MST numa "cultura social que tem dimensão de projeto". Nessa construção misturam-se necessidades e desejos, profano, laico e sagrado. Na reconstituição de memórias e histórias de perdas, derrotas e sofrimento, mas também de mística que ampara a luta, vão encontrando "a identificação com seus iguais, em âmbito global - os igualmente excluídos pela lógica de acumulação do capital em diversos cantos do planeta".
O livro analisa de forma profunda essa trama de contradições, limites, possibilidades e anúncios de forma dialética e, portanto, radicalmente histórica. Nisto reside a sua potência política: quando a pesquisa consegue revelar o movimento concreto de um processo histórico-social, tal conhecimento constitui-se, ele mesmo, em força material, transformadora e revolucionária. O resultado é um livro que se torna, na minha avaliação, a contribuição mais avançada e completa sobre o MST enquanto sujeito social constituído e constituinte. (Extratos do Prefácio de Gaudêncio Frigotto).