O desejo de superar a decadente realidade burguesa não pode, caso queria realizar-se, se dissociar da difícil tarefa de interpretá-la. Para que o fazer-se das lutas cotidianas não se perca em um febril ativismo empirista, é necessário saber o que fazer. O limitado olhar que só enxerga as árvores deve dar lugar àquele que vislumbra a floresta, por mais desértica que ela possa parecer nesses atuais tempos sombrios. A experiência do petismo no poder, encerrada pelo golpe de 2016, exige, dos revolucionários, uma densa e cuidadosa interpretação não só da tragédia, como também das condições sociais legadas por ela. Que papel ocupa o Brasil hoje no sistema capitalista internacional? Quem são nossas classes dominantes? Qual é a morfologia da classe trabalhadora brasileira depois de anos de reestruturação produtiva, contrarreformas e precarização da vida social? Quais são suas formas de associação e organização voltadas para a resistência aos ataques do capital? Qual a formatação política assumida pela dominação burguesa no Brasil em tempos de ajuste fiscal permanente e violenta retirada de direitos? Responder a essas e a outras questões constitui um desafio incontornável para a esquerda socialista brasileira, caso esta não queria se ver condenada a um trabalho de Sísifo. Como intelectual marxista e militante socialista, Marcelo Badaró Mattos aceitou o desafio, produzindo brilhantes sínteses históricas e políticas sobre o Brasil contemporâneo. Profundas e esclarecedoras, redigidas em linguagem simples e direta, estas Notas são um guia para a ação de uma esquerda anticapitalista que precisa urgentemente se reorganizar para não perecer.