Este livro é o produto de uma combinação entre as artes da palavra e da bricolagem. Tal encontro é informado pela cultura popular brasileira que permite gerar uma reflexão imaginativa sobre o tempo em que vivemos.
As rotineiras experiências do excesso, do desperdício, do descuido, da indiferença, da falta de lugar para o amor, do abandono e da pressa, presentes no mundo contemporâneo, são objetos de uma persistente elaboração. O caminho para esse exercício reflexivo foi desenvolvido de modo diferenciado pelas autoras, mas ambas operam deslocamentos na rotinização de nosso modus vivendi. Lúcia Arrais Morales recolhe, em espaços públicos, materiais vistos como inúteis. A partir daí, usando lápis de cera e papel vergê em tamanho 14,7 cm x 10,5 cm, confecciona cartões sobre os quais cola esses materiais. Consuelo de Paula restitui o verbo ocultado em cada um desses materiais e, com ele, produz um delicado silêncio inquieto, necessário à existência dessas bricolagens. A contemporaneidade dessa poética força o imprescindível fenômeno da surpresa e, com isso, age sobre a possibilidade de renovar a percepção e a apreensão do imediatamente vivido por todos nós.