Este livro é bem-vindo pois o processo civilizatório exige que enfrentemos crítica e corajosamente tabus. Esta é a grande contribuição da autora que através de estudo psicanalítico busca trazer luzes sobre um tema tradicionalmente escondido e silenciado. O abuso sexual, a pedofilia e a pornografia com a utilização de crianças e adolescentes estão recebendo, a partir desta última década, atenção cada vez maior por parte da mídia. Entretanto, esta tem privilegiado o aspecto escandaloso e criminoso destes atos. Não há dúvida. São crimes muito graves e devem ser punidos. Cabe ao Estado brasileiro punir estes crimes que têm como vítima a criança - na feliz expressão da jornalista Carla Leirner- a ”pessoinha” ainda em fase de desenvolvimento afetivo, psíquico e social. Mas não basta a punição. Cabe também ao Estado prevenir e, para tal, deve desenvolver um conjunto de leis e políticas públicas multidisciplinares que alcancem a família, a escola, os serviços públicos, a prisão e toda a comunidade. A utilização dos meios de comunicação de massa. Como estratégia, em muito poderá contribuir. A autora, reconhecendo a monstruosidade explícita da pedofilia, oferece subsídios à elucidação de sua psicopatologia com o objetivo de preveni-la e trata-la. Sabe-se, desde Freud, que as crianças são seres sexualizados, ainda que ingênuos. Mas também podem ser “brinquedos eróticos”, para aqueles que as miram como presas fáceis de desejos inconfessáveis. Na atualidade, a pedofilia, velha como o tempo, vem à tona como notícia numa freqüência inédita. As mídias eletrônicas, por sua vez, possibilitaram o surgimento de um novo sintoma da cultura contemporânea: a pornografia infantil, virtual e globalizada. Analisando determinações subjetivas e desdobramentos sociais, o presente livro é uma contribuição valiosa para a compreensão do fenômeno, signo da época, alarmante por atentar contra um dos últimos tabus do século XXI, a inocência da infância.
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