As questões que Umberto Eco coloca nesta obra são,na aparência muito simples,mas,na realidade,fundamentais para uma teoria da leitura de um texto ficcional.Com efeito,as perguntas básicas subjacentes à sua análise são: Quem é efetivamente o leitor de uma fábula? Qual o seu papel? Como e em que medida entra nesta decodificação a sua interpretação? Mas,para responder a tais indagações,o leitor de Lector in Fabula recorre a todos os elementos fornecidos pela pesquisa semiótica moderna e,sobretudo,à proposta do ato de leitura que Roland Barthes consubstanciou na expressão "prazer do texto".Pois,na verdade,para Eco,não menos do que para o crítico francês, trata-se de declarar não apenas "o que" um texto proporciona,mas também "por que" aquilo que proporciona está indissoluvelmente ligado à fruição do objeto atualizado. No encalço sistemático e pertinaz desses alvos,Lector in Fabula não poderia permanecer apenas no plano abstrato.E,sem dúvida,é magistral a aplicação que Umberto Eco faz das noções e estruturas que levanta,no discurso teórico,voltando o seu foco para a microanálise de um exemplo concreto.É claro que o relato de Alphonse Allais se ajusta perfeitamente,por sua composição e estilo,ao propósito do analista; mas o que resulta dessa incisão crítica é um notável esclarecimento,transparente não só para o estudioso dessas matérias,de como se organiza e funciona a máquina textual,qual o jogo que ocorre entre "o dito" e "o não dito",o que se desenha nos interstícios e nos espaços em branco e quais os possíveis desenvolvimentos feitos,sob a forma de "capítulos fantasma",pelo receptor-leitor, isto é,em virtude de quais estratégias e que enciclopédias ledoras um texto desempenha a contento o seu papel, realizando-se como universo ficcional.
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