Reclamando-se da linhagem crítica do medievalismo literário - entendido, em sentido amplo, como o estudo da receção, interpretação e recriação da Idade Média na tradição literária posterior -, reúne-se, no presente volume, um conjunto de ensaios nos quais se procura rastrear a sobrevida do medieval na literatura portuguesa, entre o século XIX e a contemporaneidade. Escorada no conhecimento erudito ou compaginada com as mais diversas mitologias autorais, reconstruída a partir dos seus vestígios textuais ou conjurada como impreterível fantasma, perspetivada como resto ou como rasto, a Idade Média que, sob espécie literária, ressurge na obra dos vários autores aqui estudados - Alexandre Herculano, Eça de Queirós, António Nobre, Afonso Lopes Vieira, Natália Correia, Jorge de Sena, João Miguel Fernandes Jorge ou Valter Hugo Mãe - é, mesmo quando se adentra nos territórios da História, sempre ficção de uma ficção. Analisar alguns dos tempos e dos modos desse regresso ritual a uma Idade Média ficcional e poeticamente reinventada, inscrevendo-a algures entre a sedução de um tempo sem tempo e o retorno de um recalcado civilizacional, é o que nos propõem, num percurso de leitura renovador e original, estes ensaios que se querem também iluminuras de um tempo de trevas proverbiais.
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