Entre as frustrações que os pais enfrentam na criação de seus filhos, o fracasso escolar sem dúvida é uma das mais angustiantes. Ante a suposta incapacidade de aprender, normalmente tida como um distúrbio ou um déficit, não raro se buscam diversas saídas, muitas das quais dolorosas e infrutíferas. Reforço pedagógico, repetência e evasão escolar são sinais que pouco ou nada esclarecem sobre o que está em jogo nesses casos. Como praticamente toda e qualquer esfera da vida social, a educação contemporânea tem se curvado às transformações da lógica de produção capitalista. Orientados pela busca de sucesso e eficiência de seus alunos, na qual se sobressaem as artimanhas da competitividade, os educadores de hoje muitas vezes tendem a oferecer soluções que, em vez de esclarecerem os impasses encontrados, apenas distribuem a responsabilidade de ensinar entre a escola, a família e o Estado. Nesse contexto, o encaminhamento de crianças e adolescentes com dificuldades em aprender a psicólogos e psicanalistas tem se mostrado não só recorrente, como também pouco promissor. Embora a psicanálise ajude a esclarecer as respostas subjetivas que os sujeitos adotam inconscientemente, o fracasso escolar como problema não se resolve fora das instituições de ensino. Trata-se, na verdade, de mostrar como ele se traduz em algo que, por ser bem-sucedido, tem o que ensinar àqueles que se dedicam tanto à educação quanto à psicanálise. Este livro de Ruth Cohen se ocupa justamente da investigação das etiologias do fracasso escolar na interface psicanálise & educação. Ao considerar que as causas desse fracasso não podem ser consideradas nem falsas, nem verdadeiras, a autora propõe como método de trabalho a formação de grupos interdisciplinares de reflexão voltados para o caráter contingente de cada um dos casos de fracasso escolar, tomados em sua singularidade. Como sua argumentação calcada no diálogo entre a lógica formal e a lógica psicanalítica demonstra, é na conversação mantida por todos os envolvidos com a questão que se pode construir o espaço necessário ao tratamento da tensão entre o educável e o ineducável presente em toda aprendizagem.