Entre as muitas contribuições de João Alexandre Barbosa à literatura e à crítica literária brasileiras, encontram-se os exímios ensaios sobre Paul Valéry, agora reunidos e organizados neste volume. Ensaios bastante diversos entre si, escritos em contextos também diversos, e que respondem, cada um a seu modo, às provocações suscitadas pela fineza das reflexões do escritor francês que João Cabral comparava, por sua precisão e elegância, ao lendário toureiro Manolete. Ao lado das preciosas recriações em português de Augusto de Campos, os ensaios aqui compilados são responsáveis por uma significativa redescoberta de Valéry. Não mais como um simbolista tardio, passadista, mas de um Valéry tomado em sua dimensão mais fértil e densa, permeado de tensões e contradições. Isto é, o Valéry - dos lúcidos prazeres do pensamento e das secretas aventuras da ordem- , como queria Borges, ou o Valéry da 'Comédia do Espírito', como no feliz título desta coletânea. Não por acaso os ensaios de João Alexandre Barbosa recriam, em um processo interno à própria estrutura ensaística, o terreno movediço onde se cristalizaram esses muitos 'Valérys' e outras tantas personagens valerianas: desde o embate com a pureza da escritura mallarmaica, passando pelo silêncio produtivo dos cadernos (escritos diariamente por mais de 50 anos), e pelos ciclos M.Teste e Leonardo da Vinci (personagens levadas às ultimas conseqüências), tudo isso sem deixar de lado a fina prosa dos ensaios e o criativo uso da forma diálogo. Outro grande mérito destes ensaios, como o leitor verá, é não se restringirem apenas à produção valeriana, mas iluminarem e serem iluminados por um universo de outros leitores, tão ao gosto da erudição de João Alexandre Barbosa, quevão de Borges a Octavio Paz, de Eliot e Joyce a Derrida e Calvino.
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