“É impossível, antes da leitura, não percorrer a beleza dessas páginas como se estivéssemos em uma galeria de arte”, diz o veterano quadrinista Julio Shimamoto a respeito de Couro de Gato, um livro de quadrinhos feito em xilogravura pelo gravurista João Sanches (do Estúdio Baren), a partir do roteiro de Carlos Patati, que, por sua vez, não só é um roteirista premiado, um especialista na linguagem dos quadrinhos, mas também um apaixonado pela cultura negra. O livro conta a história do surgimento do samba, no final do século XIX e início do século XX. É também a história de um Rio de Janeiro negro, mágico e trágico. O Rio de Janeiro da Tia Ciata, de Donga, de Sinhô, de Pixinguinha, da Praça 11, da Penha, do Morro do Castelo, do violão, do feitiço e da navalha. Sanches vai modificando o desenho à medida que se avança na história e surgem personagens como Noel Rosa, Ismael Silva e Cartola. Ainda que trate de fatos reais e tenha personagens reais, o fio condutor é um personagem fictício, o músico Camunguelo, e é através dele que vamos observando a evolução da cidade e de sua música. Couro de Gato é uma pequena obra prima, que foi feita lentamente, durante alguns anos, e nesse tempo de elaboração foi conquistando a admiração de outros grandes autores do quadrinhos e da literatura brasileira, de Shimamoto e Lourenço Mutarelli a Braulio Tavares.